sexta-feira, setembro 06, 2013

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Falam de tudo. Da moral, do comportamento, dos sentimentos, das reações, dos medos, das imperfeições, dos erros, das criancicesranzinzices, chatices, mesmices, grandezas, feitos, espantos. Sobretudo falam do comportamento e falam porque supõem saber. Mas não sabem, porque jamais foram capazes de sentir como o outro sente. Se sentissem não falariam.
(Nelson Rodrigues)

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quarta-feira, setembro 04, 2013

With you. Or without you.


Solidão também sabe ser boa companhia. Ouvir músicas sobrecarregadas de pieguices românticas, e não precisar conter as sensações que elas provocam. Pensar em você sem medo de ser observada ou reprimida. Querer você na intensidade que eu quiser, sem ninguém pra me conter. Nem mesmo você está aqui pra se escandalizar com as besteiras que eu escrevi e nunca te mostrei, nem com as mais loucas frases que ensaio na frente do espelho e nunca te disse. Nem vou dizer. Ainda assim, eu as ensaio. Ainda assim eu as sinto fluindo junto com um sorriso bobo no canto da boca. E eu rio sozinha lembrando o quanto você é bobo, garoto irritante e dono do meu sorriso. Fico aqui pensando em como tenho ciúme do teu travesseiro, de quem esbarra em ti nas calçadas e fica com o teu perfume na roupa. E como invejo teus lençóis, e os objetos nas prateleiras do teu quarto, que observam teu dormir e o teu preguiçoso acordar. Somente quando fico sozinha me permito gostar dos pequenos e deliciosos sustos que tomo ao perceber o quanto quero você. Muito, sempre e cada vez mais. É. Ficar sozinha tem sim seus benefícios. Mas talvez porquê eu não esteja realmente sozinha, não é moço? Talvez tu tenhas me feito companhia esse tempo todo, e esse descompasso no meu coração seja você controlando cada batida com as próprias mãos, de acordo com a sua vontade. E eu não duvido que, só de pirraça, tu tenhas entrado nas grades da minha mente, jogado as chaves fora, e agora não podes sair, assim como também não consigo mais te tirar de lá. Talvez essa solidão não me permita sentir sozinha porquê tu estás o tempo todo por perto. Aqui. Dentro de mim. E, se for isso mesmo, não te afastas da minha solidão, moço. Fica por perto, pra que minha solidão, tão cheia da tua companhia, não me deixe perceber que estou sozinha. Me deixa não. Hoje vou ouvir uma de nossas músicas, e ensaiar um pouco mais as palavras que nunca te direi olhando nos olhos pidões de quem sabe exatamente o que quer. Quem sabe tu até me ajudes a lembrar como eram as coisas antes da tua aparição, já que na minha memória não há registros válidos e relevantes dessa época. Fica aqui. Dentro de mim. Seremos você, minha solidão e eu. Que tal? Fica, moço. Fica.  


(Itala Pereira)
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