sexta-feira, agosto 22, 2014

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Conscientemente sozinha.


Chega uma hora que a gente cansa. Não dos outros, mas da gente mesmo. Cansa do cabelo, dos vícios de linguagem, da rotina que calcula friamente até o cochilo depois do almoço igualmente frio e calculado. Cansa do jeito bobo de ser, do brilho no olho por qualquer demonstração de afeto, do coração disparado por qualquer surpresa. Cansa, e não há nova rotina, paixão ou sol nascendo na praia que mude isso. Então, enquanto eu estiver cansada, não vem tentar ser a cura pro meu mal, nem consolo pros meus lamentos. Eu não quero e não preciso. Só quero saber que posso chegar no fundo do poço, cansada da queda em um abismo que parecia não ter fim, pra finalmente tentar me reerguer. Não quero meu cansaço nos ombros de outro alguém. Deixa que desse eu cuido, carrego e me livro assim, como no fundo sempre estive: sozinha.
(Itala Pereira)



I like coffee.


Normalmente, acordo querendo tomar um café quentinho e comer um pão de queijo, assistindo alguma bobagem na tv. Hoje acordei querendo um pouco mais. Acordei querendo alguém. Alguém pra dividir as manhãs comigo. Alguém a quem eu possa chamar de meu. Alguém que queira ser meu. Alguém que acorde mais feliz simplesmente porque lembrou de mim. Alguém que espere meu bom dia como quem espera ansioso, quase angustiado, a chegada de uma encomenda especial pelo correio. Nas histórias de amor que a gente vê, lê, e acompanha por ai, sempre tem gente se magoando, se ferindo. Hoje eu acordei querendo alguém que, se precisasse escolher, escolhesse ferir qualquer pessoa, menos a mim. Alguém que me priorize. Alguém que que saiba ser o único a possuir meu coração, mas não me faça sentir que o segurou com as próprias mãos, apertada e descuidadamente, consciente da dor que está me causando. Porque dói mesmo. Quero alguém que entenda que não sou perfeita, nem quero ser, mas posso ser imperfeita na medida certa. Alguém que não tenha medo de ser feliz, e que não faça pouco dos meus desajeitados esforços para fazê-lo feliz. Alguém, que um dia talvez leia esse texto, se identifique com uma linha ou outra e, por curiosidade, resolva ler um pouco mais, até querer, talvez, não parar de ler... De me ler. Quando esse dia chegar, talvez eu pare de procurar, e finalmente seja encontrada por alguém que procurasse um alguém assim, exatamente como eu. Caso aconteça, só pra eu saber, não precisa chegar com discursos prontos, frases de impacto ou cantadas com trechos de músicas. Só me traz pão de queijo, um café quentinho, e senta do meu lado. Costumo assistir umas bobagens na tv. Tava mesmo querendo alguém pra dividi-las comigo...

"E você pode ficar comigo pra sempre.
Ou você pode ficar comigo por enquanto..."
(Cold coffee - Ed Sheeran)


(Itala Pereira)



Viciada.


Quero você. É uma vontade que não cessa, não passa, não diminui. Quanto mais quero, mas consigo querer. Que agonia. E, assim como quem deseja dançar precisa desesperadamente ouvir uma boa música, sinto nitidamente que há um parte em mim que parece ter sido feita unicamente para precisar de você. Como se tu tivestes te tornado música em mim. Me fazes dançar suave, intensa e incansavelmente. Outras vezes, me fazes chorar, e nem sempre de alegria, mas sempre com tanto, tanto sentimento... No fim, não importa como, sempre me tocas, e me envolves de uma maneira que a única coisa que consigo é fazer-te música, e te ouvir e te sentir e te querer repetidas e infinitas vezes. Tu te tornastes aquela música que eu descubro sem querer, me permito apaixonar e, por mais que eu queira e meus ouvidos se cansem, simplesmente não consigo mais parar de ouvir...

(Itala Pereira)




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Contradizendo.

Você quer ouvir, mas ainda não consigo dizer. Ou não quero dizer. Sei lá. É que sempre tive a impressão de que aquilo que a gente não verbaliza, ainda pode ser mudado. E se eu, finalmente, der nome ao que sinto por você, como e pra onde vou fugir caso precise me livrar desse sentimento? Sim, fugir. Pra não querer, pra não sentir. Pra não querer sentir. E não me chame de medrosa. Não é medo de admitir. É medo de não mais conseguir negar. Não é covardia. Você não imagina quanta coragem é preciso ter pra renunciar esse sentimento todos os dias. E também não é medo de não ser correspondida, porque o barato disso tudo é a incondicionalidade. Então, talvez eu sinta amor por você. E com "talvez" eu quero que dizer que... Putz! A quem eu tô querendo enganar? É. Eu amo você. Amo. E amo mesmo. Amo seu sorriso, seu jeito chato e bobo de ser, suas brincadeiras irritantes, seu cheiro, sua mão na minha cintura, seu bom gosto musical... Amo que você ainda aluga filmes. Amo você ser nerd e não querer admitir porque "ser nerd virou modinha". Amo quando você diz "Ei, pow!", porque eu já sei que a próxima frase vai me fazer rir. Amo quando você aparece do nada no meu celular, no meu telefone, no meu portão... Amo porque dispara meu coração já meio contrito, que sempre acha que dessa vez você sumiu pra sempre. Amo tudo em você. Amo seus defeitos. Amo seus efeitos em mim. Amo você. Agora tá "dito". Não me deixa voltar pro "talvez". Não me deixa querer fugir. Eu amo você. Por favor, me faz querer nunca mais parar de dizer. E sentir.

(Itala Pereira)