sexta-feira, novembro 16, 2012

Quase.


Quase te liguei hoje. Quase deixei de lado o orgulho, o medo, a timidez e um montão desses sentimentos tensos que carrego comigo, e telefonei pra você. Foi por pouco. Até ensaiei na frente do espelho o que ia te dizer, acredita? Imaginei como seria todo o nosso "diálogo". Era algo mais ou menos assim: "Alô? Oi! Sou eu... (Sim, eu ensaiei desde o 'Alô!') Espero que esteja tudo bem contigo. E não vou perguntar se está, porque imagino que esteja. E se não estiver, não me diga, porque não quero saber o quanto me preocupo contigo. Não quero mesmo me preocupar contigo. Bom, mas não foi por isso que liguei. Na verdade, nem eu sei porque liguei. Acho que queria ouvir tua voz, mas - e é de propósito - eu ainda não parei de falar desde que você me atendeu. E não vou parar agora, porque acho que ouvir tua voz nesse momento me roubaria essa pseudo coragem que funcionou bem nesses primeiros 15 segundos. Então, apenas me ouve, tá? Aperta uma tecla do telefone pra eu saber que você ainda tá aí e só me ouve. (Barulhinho do teclado. Coração bateu ainda mais rápido. Você estava mesmo me ouvindo.). É... Você está mesmo aí. Então...Bom, acho que sonhei com você hoje, e... É... Ah! Quer saber? Minha maior mancada foi te ligar, e isso eu já fiz. Quer saber a verdade mesmo? Te liguei pra dizer que odeio precisar tanto de você! Odeio essa vontade de cuidar de você, essa necessidade de saber que você está bem. Odeio precisar do teu sorriso pra ficar feliz. Odeio te perdoar sempre, mesmo quando você nem sabe que errou. Você me tirou da minha zona de conforto, sabia? Tirou, isso me assusta, e eu não gosto de sentir medo. Você é um idiota mesmo! Você só pode se achar muito importante pra roubar minha paz desse jeito. Ah! Essa semana, sem querer, prestei atenção na letra da música Relicário, do Nando Reis. Ela começou a tocar na rua enquanto eu voltava pra casa. Me senti o próprio Nando, e questionava junto com ele: 'O que está acontecendo? Eu estava em paz quando você chegou.' E eu estava mesmo. Eu achava que não, e que as coisas estavam complicadas pra mim, mas eu estava errada. Ai vem você, e me apresenta essa paz agoniante, ou agonia pacífica... Ainda não sei ao certo. E agora eu sinto que preciso de você. Eu sinto muita coisa. Sinto que... Eu sinto, entende? Eu sinto e esse é o problema. Porque, se nem me preocupar contigo eu quero, você acha mesmo que eu quero ter algum tipo de sentimento por ti? Eu não quero mesmo. Mas aí eu descubro que minha vontade perdeu voz e voto quando o assunto é você. Eu não tenho escolha. Você nem deve imaginar o que é isso, porque tem tudo sempre friamente calculado. Eu também tinha. Ou achava que tinha. Agora sei de mais nada. Só que queria estar na sua frente, dizendo as muitas verdades que quero te dizer, e as muitas outras que mesmo sem querer dizer, você precisa ouvir. Eu já disse que odeio você? E o quanto quero que você suma, mas não me leve junto? É, porque se for pra ir embora, e levar um pedaço meu contigo, eu vou ter que pedir que você fique. Nem que seja pra alimentar essa necessidade que eu tenho de repetir o quanto odeio precisar tanto de você. E... Bem, você está me ouvindo há muito tempo, e eu sei que não falei tudo que gostaria, mas começo a me perder no que quero dizer, e antes que eu fale mais do que já falei, é melhor eu desligar. E é melhor que você durma cedo, como sempre faz. Sempre tão certinho. Sempre me fazendo querer ser alguém melhor. Que ódio de você! Vou desligar agora, mas... Ei... Eu... Nada! Odeio você! Vou mesmo desligar." E na minha imaginação, eu ainda olhava um pouco pro telefone, tentava falar algo que nem eu sabia o que era, mas como nada saia da minha boca, eu desliguei a ligação. E nem na minha imaginação, e sozinha na frente do espelho, sabendo que você não ouviria uma palavra sequer do que eu iria dizer, eu consegui ser sincera contigo. Nem comigo. Falei tanto, e ainda continuei com um aperto no peito, como se nada tivesse sido dito, e eu ainda carregasse o peso de cada palavra que queria te dizer. Vai ver foi porque eu disse quase tudo. Quase.

E vai ver foi por isso também que não liguei pra você hoje.
Bom... É. Mas eu quase liguei. Quase.
(Itala Pereira)

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