quinta-feira, junho 07, 2012

Amores imperfeitos.

"Morro de saudade das pessoas perfeitas que eu invento. 
Eu me apaixono perdidamente por elas. 
O problema, é que elas só existem na minha imaginação. 


Não é assim que funciona? Há quem não acredite em amor à primeira vista. Mas comigo, geralmente é assim. Amor à primeira vista, decepção na segunda. E não falo apenas de amores e romances. Crio expectativas com relação às pessoas em todos os tipos de relacionamento. Sem conhecê-las, já as invento de acordo com minhas necessidades: compreensivas, generosas, românticas, fieis, fortes, inteligentes, bem-humoradas, seguras de si, sempre com palavras bonitas e gestos mais lindos ainda. Viro o espelho ao contrário, e acabo refletindo no outro, as qualidades que eu gostaria de possuir. E isso é um fardo pesado demais.
Fico imaginando se todo mundo é assim. E aí, mais um problema surge: o meu medo de decepcionar quem me imagina perfeita. Então me esforço ao máximo para agradar, fico medindo palavras e atitudes, dificilmente imponho minha vontade e quase nunca tenho coragem de dizer não. Isso é muito ruim, nos mantém presos aos personagens que criamos para não desagradarmos a opinião alheia.
A solução seria simples, aceitar que nem eu, nem você, nem ninguém, é perfeito. Que cada um de nós em algum momento vai pisar na bola, ter uma atitude egoísta, ou não vai agir exatamente como gostaríamos que agisse. Mas falar é fácil. Colocar em prática, é que são elas. Não por nada, conversamos com as pessoas, espiamos seus perfis em redes sociais, e nos deparamos com um rio de lamentações acerca do comportamento dos outros. Sobre nossos próprios comportamentos, refletimos muito pouco.
Eu confesso, que de tanto me decepcionar, estou mudando. Comecei exigindo menos de mim, e depois, aos poucos, não espero muito do próximo, permitindo que ele me surpreenda positivamente. E isso sempre acontece. Quando você não coloca quilos e quilos de expectativa nas pessoas, você se torna mais tolerante, mais sensível, e a vida fica mais leve.
Confesso que vivi meus trinta anos procurando algo, que nem eu mesma sabia o que era. Achava que um amor, um amigo, um familiar, um emprego, um café, preencheriam este vazio. E também achei, que o que me faltava estaria em um outro lugar qualquer.
No topo da Cordilheira, à beira do mar do Caribe, na gôndola de Veneza, às portas do Vaticano, nas águas do Mediterrâneo, no calor do Nordeste, no frio da Patagônia, o único encontro que tive, foi comigo mesma. Posso dividir uma linda paisagem, um sorvete, um sofá, uma vida, com outra pessoa. Mas não posso viver dividida entre ilusão e realidade. A vida jamais será um conto de fadas. E ninguém vai salvar você de si mesmo.
A perfeição não existe nos outros. Muito menos na gente. Enxergar isso é o grande passo para aceitar a imperfeição dos amores, dos amigos, a nossa imperfeição, e a imperfeição do caminho. Aí sim, perceberemos que vivemos em um mundo imperfeito, repleto de momentos perfeitos. E que as deficiências das pessoas que amamos, podem ser preenchidas com nossas qualidades, e vice-versa. Que tenhamos a capacidade de vermos no outro, sempre, uma mão para nos ajudar a evoluir, e não uma muleta, para nos carregar."

(Michele Lunardi)

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