Teletransporte.

Eu só queria poder te teletransportar até aqui. Só isso. É pedir muito? É querer demais trazer pra perto quem a gente gosta? É sonhar muito alto querer te materializar na minha frente sempre que teu rosto surgir em minha mente? Não sei, mas, ainda assim, eu quero! Seria bom demais te imaginar me abraçando e, como que num passe de mágica, sentir teus braços me envolvendo com um abraço bom, gostoso e recheado daquela sensação que se tem quando se usa um cobertor quentinho numa noite de frio. Queria era sonhar com teu beijo, e zás! Do nada eu sentiria você do meu lado, me acordando ao encostar suavemente teus lábios nos meus. E eu ia olhar nos teus olhos, sorrir, e contar cada milésimo de segundo até você sorrir de volta e me beijar novamente. Meus lábios iriam tremer, e eu sentiria uma corrente elétrica correndo por cada veia do meu corpo - é aquela sensação boa de, além de estar vivo, saber-se apaixonado. Queria mesmo era tocar violão de olhos fechados, imaginar você me olhando, e ao abrir meus olhos, ver você sorrindo e me admirando. E eu ia ficar muito nervosa, parar de tocar, e você iria sorrir de um jeito muito dengoso, enquanto dizia: "Não para! Sei que você ficou nervosa e errou tudo porque eu cheguei, mas não para! Toca a nossa música pra mim!". E eu iria tentar de novo, errar tudo, e ainda assim você não conseguiria parar de me olhar do jeito mais doce que se pode olhar alguém. Queria mesmo era te teletransportar agora, pra que você pudesse ler aqui comigo essas linhas tolas, melosas, mas tão, tão verdadeiras. Queria te ver agora e... Espera! Você chegou? Cheg... Não, não chegou! Mas é você me telefonando agorinha! Parece até que sabia que eu estava aqui escrevendo pra você! É: como ainda não inventaram o teletransporte, a gente vai se virando com o telefone e a nossa "tele sintonia", né? E já que te trazer até aqui tá complicado por enquanto, eu vou correndo te atender, porque, por hora, me conformo demais com o frio na barriga e descompasso cardíaco que a tua voz me causa do outro lado da linha.

(Itala Pereira)

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